Considerações sobre o
necessário e o supérfluo, comentário sobre a reunião da Mocidade da Casa Espírita
Verdade e Luz no dia 16 de janeiro de
2018.
Podemos observar que tudo o
que é necessário ou supérfluo, certamente gera sobras. Segundo o dicionário
Aurélio, “Sobras”, é tudo aquilo que
temos em demasia, em excesso, é tudo aquilo que nos é supérfluo.
Em questionamento íntimo sobre
nossas sobras, em um primeiro momento responderemos que nada nos sobra, pelo
contrário, sempre nos falta alguma coisa. Quanto mais refletirmos, perceberemos
que pequenas coisas que estão à nossa volta é que, realmente não nos farão
falta.
O que nos importa como
cristãos espíritas é notar o que está sobrando em algum lugar, estará faltando
em outro. Deus em sua sabedoria e em seu amor por nós, jamais permitiria
criação de algo que não tivesse utilidade. A nós, cabe gerirmos aquilo que
temos de forma a não irmos na contramão às leis de Deus.
Considerando-se que a gestão daquilo que possuímos se faz
necessário para evitar o desperdício, ficamos a nos perguntar o que realmente
nos é necessário. Se permitimos que a dualidade entre o Ser e o Ter não esteja
em equilíbrio, não saberemos pelo nosso bem-estar pessoal nem o da nossa casa.
Deus
proveu a Natureza de todos os recursos para garantir a sobrevivência dos seres
vivos no Planeta. Não fora possível
que Deus criasse para o homem a necessidade de viver, sem lhe dar os meios de
consegui-lo. Essa a razão por que faz que a Terra produza de modo a
proporcionar o necessário aos que a habitam, visto que só o necessário é útil.
O supérfluo nunca o é. Allan Kardec: O
livro dos espíritos, questão 704
A Terra produzirá o suficiente
para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem
administrar, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os
bens que ela dá. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo. Cap. 25, item
8.
Não vos preocupeis com a vossa
vida, quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis
de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa?
[...] Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça e todas essas
coisas vos serão acrescentadas. Mateus,
6:25-26 e 33.
Olhamos para o passado da humanidade e percebemos que os
Homens viviam com muito menos do que temos hoje, no extremo, o homem das
cavernas praticamente nada possuía, era um nômade, um andarilho e só possuía
aquilo que podia carregar. Desta observação vem um impulso imediato de acharmos
que tudo o que possuímos é supérfluo. Mas não podemos esquecer que Deus é
soberanamente justo e bom, não nos daria a possibilidade de adquirirmos tantas
coisas se não tivesse um objetivo. Durante toda a caminhada como espíritos
imortais somos levadas a buscar o conforto, movimento que prolonga nossas vidas
e desperta potências adormecidas. Desta forma, tudo aquilo de que hoje prescindimos
é necessário para o nosso movimento evolutivo. A primeira conclusão
extremamente importante então é que o conceito de necessário é relativo ao
momento evolutivo em que a humanidade se encontra.
Tudo o que o homem necessita
para manutenção da vida encontra-se na Terra. É admirável a previdência e a
sabedoria divina, manifestada na Natureza, para o atendimento de todas as
necessidades do homem, primitivo ou civilizado, em qualquer época. De um lado,
todos os recursos naturais, ao alcance da criatura, na atmosfera, no solo, nas
águas e nas entranhas da Terra; de outro, a necessidade do esforço, do
trabalho, da aplicação da inteligência, da luta contra os elementos, para
fruição dos meios de manutenção. SOUZA, Juvanir Borges de. Tempo de transição. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. 5
(Necessário e supérfluo), p. 50-51.
Quando buscamos então o conceito de necessário relativo ao
momento em que vivemos, somos impactados por grandes diferenças, percebemos que
existem pessoas que vivem muito bem com muito pouco e outras que não conseguem
viver apaziguadas. O mesmo cenário é encontrado entre os ricos. Percebemos
então que não existe uma relação direta entre o conceito de necessário e a
classe social onde se encontra o indivíduo. Quando começamos a observar nossa
sociedade percebemos que as pessoas possuem conceitos diferenciados sobre o que
lhes é necessário, já que somos criaturas únicas, atingimos desta forma um
ponto crítico, não é possível estabelecer um conceito geral sobre o que é
necessário e o que é supérfluo. Cada indivíduo deve considerar o seu próprio
momento evolutivo para definir o que lhe é necessário e deixar para que os
outros se preocupem com o que lhes é supérfluo.
Ainda dentro desse contexto do que é supérfluo e do que é
necessário à nossa existência, fazem-nos eco as seguintes ponderações de um
Espírito Protetor, o qual, em mensagem ditada no ano de 1861, já dizia: Quando considero a brevidade da vida,
dolorosamente me impressiona a incessante preocupação de que é para vós objeto
o bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dais ao vosso
aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum tempo consagrais e que, no
entanto, é o que importa para a eternidade. Dir-se-ia, diante da atividade que
desenvolveis, tratar-se de uma questão do mais alto interesse para a
Humanidade, quando não se trata, na maioria dos casos, senão de vos pordes em
condições de satisfazer a necessidades exageradas, à vaidade, ou de vos
entregardes a excessos. Que de penas, de amofinações, de tormentos cada um se
impõe; que de noites de insônia, para aumentar haveres muitas vezes mais que
suficientes! Por cúmulo de cegueira, frequentemente se encontram pessoas,
escravizadas a penosos trabalhos pelo amor imoderado da riqueza e dos gozos que
ela proporciona, a se vangloriarem de viver uma existência dita de sacrifício e
de mérito – como se trabalhassem para os outros e não para si mesmas!
Insensatos! Credes, então, realmente, que vos serão levados em conta os
cuidados e os esforços que despendeis movidos pelo egoísmo, pela cupidez ou
pelo orgulho, enquanto negligenciais do vosso futuro, bem como dos deveres que
a solidariedade fraterna impõe a todos os que gozam das vantagens da vida
social? Unicamente no vosso corpo haveis pensado; seu bem-estar, seus prazeres
foram o objeto exclusivo da vossa solicitude egoística. Por ele, que morre,
desprezastes o vosso Espírito, que viverá sempre. Por isso mesmo, esse senhor
tão amimado e acariciado se tornou
o vosso tirano; ele manda sobre o vosso Espírito, que se lhe constituiu
escravo. Seria essa a finalidade da existência que Deus vos outorgou?
KARDEC, Allan. O evangelho
segundo o espiritismo. Cap. 16, item 12,
Apresentamos,
a seguir, algumas medidas que nos são sugeridas pelo Espírito André Luiz. São
medidas que podem nos servir de roteiro para auxiliar a educação da nossa ânsia de consumo e de acúmulo de bens, de
forma a investir com mais segurança no nosso crescimento espiritual:
Não
converta o próprio lar em museu. Utensílio inútil em casa será utilidade na
casa alheia. O desapego começa das pequeninas coisas, e o objeto conservado,
sem aplicação no recesso da moradia, explora os sentimentos do morador. A verdadeira morte começa na
estagnação. Quem faz circular os empréstimos de Deus, renova o próprio caminho.
Transfigure os apetrechos, que lhe sejam inúteis, em forças vivas do bem.
Retire da despensa os gêneros alimentícios, que descansam esquecidos, para a
distribuição fraterna aos companheiros de estômago atormentado. Reviste o
guarda-roupa, libertando os cabides das vestes que você não usa, conduzindo-as
aos viajores desnudos da estrada. Estenda os pares de sapatos, que lhe sobram,
aos pés descalços que transitam em derredor. Elimine do mobiliário as peças
excedentes, aumentando a alegria das habitações menos felizes. Revolva os
guardados em gavetas ou porões, dando aplicação aos objetos parados de seu uso
pessoal. Transforme em patrimônio alheio os livros empoeirados que você não
consulta, endereçando-os ao leitor sem recursos. Examine a bolsa, dando um
pouco mais que os
simples compromissos da
fraternidade, mostrando gratidão
pelos acréscimos da Divina Misericórdia [...]. Previna-se hoje contra o remorso
amanhã. O excesso de nossa vida cria a necessidade do semelhante. XAVIER,
Francisco Cândido & VIEIRA, Waldo. O Espírito da Verdade. Cap. 2 (Excesso e
você – mensagem do Espírito André Luiz), p. 17-18. Por diversos Espíritos. 14.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003.
Assim, podemos concluir que:
O homem é quase sempre o obreiro
de sua própria infelicidade. Praticando a Lei de Deus, a muitos males se
forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a
sua existência grosseira.
Já nesta vida somos punidos
pelas infrações que cometemos, das leis que regem a existência corpórea,
sofrendo os males consequentes dessas mesmas infrações e dos nossos próprios
excessos. Se, gradativamente, remontarmos à origem do que chamamos as nossas
desgraças terrenas, veremos que, na maioria dos casos, elas são a consequência
de um primeiro afastamento nosso do caminho reto. Desviando-nos deste,
enveredamos por outro, mau, e, de consequência em consequência, caímos na
desgraça. Allan Kardec: O livro dos espíritos, questão 921.
Para finalizarmos, uma reflexão:
[...]
Em todas as épocas, a sociedade humana é o filtro gigantesco do espírito, em
que as almas, nos fios da experiência, na abastança ou na miséria, na direção
ou na subalternidade, colhem os frutos da plantação que lhes é própria,
retardando o passo na planície vulgar ou acelerando-o para o cismo da vida, em
obediência aos ditames da evolução.
XAVIER, Francisco Cândido.
Pensamento e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. Item 19.
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