domingo, 26 de maio de 2019

Necessário e Supérfluo



Considerações sobre o necessário e o supérfluo, comentário sobre a reunião da Mocidade da Casa Espírita Verdade e Luz  no dia 16 de janeiro de 2018.
Podemos observar que tudo o que é necessário ou supérfluo, certamente gera sobras. Segundo o dicionário Aurélio, “Sobras”, é tudo aquilo que temos em demasia, em excesso, é tudo aquilo que nos é supérfluo.
Em questionamento íntimo sobre nossas sobras, em um primeiro momento responderemos que nada nos sobra, pelo contrário, sempre nos falta alguma coisa. Quanto mais refletirmos, perceberemos que pequenas coisas que estão à nossa volta é que, realmente não nos farão falta.
O que nos importa como cristãos espíritas é notar o que está sobrando em algum lugar, estará faltando em outro. Deus em sua sabedoria e em seu amor por nós, jamais permitiria criação de algo que não tivesse utilidade. A nós, cabe gerirmos aquilo que temos de forma a não irmos na contramão   às leis de Deus. 
Considerando-se que a gestão daquilo que possuímos se faz necessário para evitar o desperdício, ficamos a nos perguntar o que realmente nos é necessário. Se permitimos que a dualidade entre o Ser e o Ter não esteja em equilíbrio, não saberemos pelo nosso bem-estar pessoal nem o da nossa casa.
Deus proveu a Natureza de todos os recursos para garantir a sobrevivência dos seres vivos no Planeta. Não fora possível que Deus criasse para o homem a necessidade de viver, sem lhe dar os meios de consegui-lo. Essa a razão por que faz que a Terra produza de modo a proporcionar o necessário aos que a habitam, visto que só o necessário é útil. O supérfluo nunca o é.  Allan Kardec: O livro dos espíritos, questão 704
A Terra produzirá o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os bens que ela dá. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo. Cap. 25, item 8.
Não vos preocupeis com a vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa? [...] Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos serão acrescentadas.  Mateus, 6:25-26 e 33.
Olhamos para o passado da humanidade e percebemos que os Homens viviam com muito menos do que temos hoje, no extremo, o homem das cavernas praticamente nada possuía, era um nômade, um andarilho e só possuía aquilo que podia carregar. Desta observação vem um impulso imediato de acharmos que tudo o que possuímos é supérfluo. Mas não podemos esquecer que Deus é soberanamente justo e bom, não nos daria a possibilidade de adquirirmos tantas coisas se não tivesse um objetivo. Durante toda a caminhada como espíritos imortais somos levadas a buscar o conforto, movimento que prolonga nossas vidas e desperta potências adormecidas. Desta forma, tudo aquilo de que hoje prescindimos é necessário para o nosso movimento evolutivo. A primeira conclusão extremamente importante então é que o conceito de necessário é relativo ao momento evolutivo em que a humanidade se encontra.
Tudo o que o homem necessita para manutenção da vida encontra-se na Terra. É admirável a previdência e a sabedoria divina, manifestada na Natureza, para o atendimento de todas as necessidades do homem, primitivo ou civilizado, em qualquer época. De um lado, todos os recursos naturais, ao alcance da criatura, na atmosfera, no solo, nas águas e nas entranhas da Terra; de outro, a necessidade do esforço, do trabalho, da aplicação da inteligência, da luta contra os elementos, para fruição dos meios de manutenção. SOUZA, Juvanir Borges de. Tempo de transição. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. 5 (Necessário e supérfluo), p. 50-51.
Quando buscamos então o conceito de necessário relativo ao momento em que vivemos, somos impactados por grandes diferenças, percebemos que existem pessoas que vivem muito bem com muito pouco e outras que não conseguem viver apaziguadas. O mesmo cenário é encontrado entre os ricos. Percebemos então que não existe uma relação direta entre o conceito de necessário e a classe social onde se encontra o indivíduo. Quando começamos a observar nossa sociedade percebemos que as pessoas possuem conceitos diferenciados sobre o que lhes é necessário, já que somos criaturas únicas, atingimos desta forma um ponto crítico, não é possível estabelecer um conceito geral sobre o que é necessário e o que é supérfluo. Cada indivíduo deve considerar o seu próprio momento evolutivo para definir o que lhe é necessário e deixar para que os outros se preocupem com o que lhes é supérfluo.
Ainda dentro desse contexto do que é supérfluo e do que é necessário à nossa existência, fazem-nos eco as seguintes ponderações de um Espírito Protetor, o qual, em mensagem ditada no ano de 1861, já dizia: Quando considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante preocupação de que é para vós objeto o bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dais ao vosso aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum tempo consagrais e que, no entanto, é o que importa para a eternidade. Dir-se-ia, diante da atividade que desenvolveis, tratar-se de uma questão do mais alto interesse para a Humanidade, quando não se trata, na maioria dos casos, senão de vos pordes em condições de satisfazer a necessidades exageradas, à vaidade, ou de vos entregardes a excessos. Que de penas, de amofinações, de tormentos cada um se impõe; que de noites de  insônia,  para aumentar haveres muitas vezes mais que suficientes! Por cúmulo de cegueira, frequentemente se encontram pessoas, escravizadas a penosos trabalhos pelo amor imoderado da riqueza e dos gozos que ela proporciona, a se vangloriarem de viver uma existência dita de sacrifício e de mérito – como se trabalhassem para os outros e não para si mesmas! Insensatos! Credes, então, realmente, que vos serão levados em conta os cuidados e os esforços que despendeis movidos pelo egoísmo, pela cupidez ou pelo orgulho, enquanto negligenciais do vosso futuro, bem como dos deveres que a solidariedade fraterna impõe a todos os que gozam das vantagens da vida social? Unicamente no vosso corpo haveis pensado; seu bem-estar, seus prazeres foram o objeto exclusivo da vossa solicitude egoística. Por ele, que morre, desprezastes o vosso Espírito, que viverá sempre. Por isso mesmo, esse senhor tão amimado e acariciado  se  tornou  o vosso tirano; ele manda sobre o vosso Espírito, que se lhe constituiu escravo. Seria essa a finalidade da existência que Deus vos outorgou?
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Cap. 16, item 12,
        Apresentamos, a seguir, algumas medidas que nos são sugeridas pelo Espírito André Luiz. São medidas que podem nos servir de roteiro para auxiliar a educação da nossa  ânsia de consumo e de acúmulo de bens, de forma a investir com mais segurança no nosso crescimento espiritual:
        Não converta o próprio lar em museu. Utensílio inútil em casa será utilidade na casa alheia. O desapego começa das pequeninas coisas, e o objeto conservado, sem aplicação no recesso da moradia, explora os sentimentos  do morador. A verdadeira morte começa na estagnação. Quem faz circular os empréstimos de Deus, renova o próprio caminho. Transfigure os apetrechos, que lhe sejam inúteis, em forças vivas do bem. Retire da despensa os gêneros alimentícios, que descansam esquecidos, para a distribuição fraterna aos companheiros de estômago atormentado. Reviste o guarda-roupa, libertando os cabides das vestes que você não usa, conduzindo-as aos viajores desnudos da estrada. Estenda os pares de sapatos, que lhe sobram, aos pés descalços que transitam em derredor. Elimine do mobiliário as peças excedentes, aumentando a alegria das habitações menos felizes. Revolva os guardados em gavetas ou porões, dando aplicação aos objetos parados de seu uso pessoal. Transforme em patrimônio alheio os livros empoeirados que você não consulta, endereçando-os ao leitor sem recursos. Examine a bolsa, dando um pouco mais      que  os  simples  compromissos  da  fraternidade,  mostrando gratidão pelos acréscimos da Divina Misericórdia [...]. Previna-se hoje contra o remorso amanhã. O excesso de nossa vida cria a necessidade do semelhante. XAVIER, Francisco Cândido & VIEIRA, Waldo. O Espírito da Verdade. Cap. 2 (Excesso e você – mensagem do Espírito André Luiz), p. 17-18. Por diversos Espíritos. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003.
Assim, podemos concluir que:
O homem é quase sempre o obreiro de sua própria infelicidade. Praticando a Lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.
            Já nesta vida somos punidos pelas infrações que cometemos, das leis que regem a existência corpórea, sofrendo os males consequentes dessas mesmas infrações e dos nossos próprios excessos. Se, gradativamente, remontarmos à origem do que chamamos as nossas desgraças terrenas, veremos que, na maioria dos casos, elas são a consequência de um primeiro afastamento nosso do caminho reto. Desviando-nos deste, enveredamos por outro, mau, e, de consequência em consequência, caímos na desgraça. Allan Kardec: O livro dos espíritos, questão 921.
Para finalizarmos, uma reflexão:
        [...] Em todas as épocas, a sociedade humana é o filtro gigantesco do espírito, em que as almas, nos fios da experiência, na abastança ou na miséria, na direção ou na subalternidade, colhem os frutos da plantação que lhes é própria, retardando o passo na planície vulgar ou acelerando-o para o cismo da vida, em obediência aos ditames da evolução.

XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. Item 19.

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