sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Racionalidade poética do amor




Somos coração e razão. Mesmo não tendo encontrado o equilíbrio entre estas duas fontes. Somos duas fontes de energias que nem sempre andam do mesmo lado. Como o próprio ditado popular diz: O coração tem razões que a própria razão desconhece.

Segundo Simon Blackbum “Aceitar uma coisa como racional é aceitá-la como algo que faz sentido, ou eu é apropriado, ou necessário, ou que está de acordo com um objetivo reconhecido, tal como chegar à verdade, ou alcançar o bem”.

A loucura humana é fonte de ódio, crueldade, barbárie, cegueira. Mas se as desordens da afetividade e as incursões pelo imaginário, sem a doce loucura do impossível, não teríamos o entusiasmo, a criação, a invenção, o amor e a poesia.

Sendo assim, como o ser humano é um animal insuficiente em razão como também dotado de sem-razão. Todavia penso que devemos controlar o que somos para exercermos um pensamento racional, argumentado e complexo. Vejo que para termos um lado racional no amor é necessário inibirmos, em nós, o eu temos de mortífero, imbecil e mesquinho. Temos necessidade de preservar a sabedoria, que levara a prudência, temperança, cortesia e o desprendimento.

Prudência, sim, mas não será esterilizar as nossas vidas ao evitar o risco a todo o preço? Temperança, sim, mas será necessário evitar a experiência da «consumação» e do êxtase? Desprendimento, sim, mas será necessário renunciar aos laços da amizade e do amor?

O mundo em que vivemos é, talvez, um mundo de aparências, a espuma de uma realidade mais profunda que escapa ao tempo, ao espaço, aos nossos sentidos e ao nosso entendimento. Mas o nosso mundo da separação, da dispersão, da afinidade, é também o da atração, do encontro, da exaltação. Estamos completamente imersos neste mundo que é o dos nossos sofrimentos, das nossas felicidades e dos nossos amores. Não sentir é evitar o sofrimento mas também o regozijo. Quanto mais aptos estamos para a felicidade mais aptos estamos para a infelicidade. O Tao-tö-Kung diz precisamente: «a infelicidade caminha de braço dado com a felicidade, a felicidade deita-se aos pés da infelicidade.»

Estamos condenados ao paradoxo de conservar em nós, simultaneamente, a consciência da vacuidade do nosso mundo e a da plenitude que nos pode trazer a vida, quando quiser ou puder. Se a sabedoria nos pede para nos desprendermos do mundo da vida, será ela verdadeiramente sábia? Se aspiramos à plenitude do amor, seremos nós verdadeiramente loucos?

Reconhecemos o amor como o cúmulo da união da loucura e da sabedoria, isto é, que no amor, sabedoria e loucura não só são inseparáveis como unifica uma à outra. A poesia não é somente uma forma de expressão literária, mas como o estado, dito segundo, que surge da participação, do fervor, da admiração, da comunhão, da bebedeira, da exaltação e, claro, do amor que em si contém todas as expressões do estado segundo. A poesia está liberta do mito e da razão trazendo em si a sua união. O estado poético transporta-nos, através da loucura e da sabedoria, para além da loucura e da sabedoria.

Se o amor é parte da poesia da vida, podemos ver a poesias sendo parte do amor da vida. O amor e poesias geram-se um ao outro e podem ser identificada um ao outro. Desta forma, poderemos afirmar que o amor é a união suprema da sabedoria e da loucura, portando teremos de assumir o amor.

Quem sabe assim iremos transcender a vida e aspirar e viver este lado poético e evitar que nossas vidas apenas absorvam esta loucura.

Devemos fazer tudo para desenvolver a nossa racionalidade, mas é no seu próprio desenvolvimento que a racionalidade reconhece os limites da razão e efetua o diálogo com o irracional.

O nosso presente está em busca de sentido. Mas o sentido não é originário, não vem do exterior dos nossos seres. Emerge da participação, da fraternização, do amor. O sentido do amor e o sentido da poesia é o sentido da qualidade suprema da vida. Amor e poesia, quando concebidos como fins e meios do viver, dão plenitude de sentido ao «viver para viver».

A sabedoria pode levar a razão que poderá gerar problemas entre o amor e a poesia, mas o amor e a poesia podem, reciprocamente, problematizar a sabedoria e em conseqüência por em conflito a razão. A via aqui encarada, que nela conteria amor, poesia, sabedoria, comportaria nela própria esta múltipla forma de entender esta complexidade humana.

O excesso de racionalidade e sabedoria torna-se louco, a sabedoria só evita a loucura misturando-se com a loucura da poesia e do amor.

Portanto, podemos assumir, mas com plena consciência, o destino antropológico do que realmente somos, isto é, jamais cessar em nós o diálogo entre sabedoria e loucura, ousadia e prudência, economia e despesa, temperança e «consumação», desapego e apego.

É aceitar a tensão dialógica, que mantém em permanência a complementaridade e o antagonismo entre amor-poesia e sabedoria-racionalidade."

Todos os direitos reservados ao autor Luiz Felipe Nicolato ®

Um comentário:

  1. O amor e a louura,não seremos nós os ''amantes'' os verdadeiros ''loucos''e os loucos,não serão eles os únicos sensatos dessa vida louca?Beijos!

    ResponderExcluir

Se você gostou dotexto e tem algo a dizer sobre ele, por favor, comente-o, mas, somente comentários relativos ao conteúd do blog, caso contrário poderá usar o MURAL DE RECADOS.
Obrigada pela visita!
Que seu dia seja perfeito e de muita PAZ.